terça-feira, 20 de outubro de 2009

Jornal da Cidade destaca: "Bairro de Simão Dias teve 41 mortes por câncer em 13 anos "

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Moradores do bairro Brasília, localizado no município de Simão Dias, distante cem quilômetros de Aracaju, estiveram na Assembleia Legislativa, ontem pela manhã, para denunciar que 41 pessoas já morreram de câncer, em 13 anos, desde que foi instalada uma antena de transmissão celular na localidade. O grupo de pessoas que fazem parte do movimento “Fora Torre” foi pedir apoio dos deputados estaduais para que o equipamento seja retirado do local.

Diante da alta incidência da doença no bairro, os próprios moradores fizeram um levantamento que apontou um resultado assustador: 41 mortes em decorrência da doença, cinco pessoas com câncer em tratamento, além de mulheres que tiveram que ser esterilizadas por conta de tumores e miomas, oito apenas no último ano.

Segundo a líder do movimento “Fora Torre”, Maralice Santabárbara Góis, dos óbitos ocorridos dois foram em crianças que apresentaram a doença no cérebro. Os demais pacientes foram vítimas de manifestações da doença que atingiram intestino, pâncreas e fígado, entre outras partes do corpo. “Temos casos de marido e mulher e de irmãos infectados, por exemplo. Tenho certeza que se fosse feita uma pesquisa por alguma autoridade de saúde esse índice ultrapassaria mais de cem pessoas vítimas de câncer”, disse Maralice.

Ela contou que alguns moradores vão ao médico e os exames não constatam nada. Mas quando as pessoas descobrem que estão com câncer a doença já está em estágio avançado. “Passam pouco tempo com vida e muitas vezes nem dá tempo de fazer o tratamento de quimioterapia e radioterapia”, afirmou. Além dos casos de câncer, Maralice relatou também existirem crianças com manchas roxas pelo corpo. “Viemos à Assembleia para pedir socorro. Viemos buscar uma medida imediata que consiga barrar essa situação, porque quanto mais o tempo passa mais pessoas estão morrendo”, disse Maralice.

Área urbana

A antena, que atende a três operadoras de telefonia celular, está instalada numa área urbana, inclusive próximo ao Colégio Estadual Milton Dortas, o maior do município e que tem quase três mil alunos. Os moradores dizem que, segundo estudiosos do assunto, para evitar danos à saúde ela deve ser instalada a uma distância mínima de 400 metros fora do perímetro urbano.

Em 2007, os moradores entraram em contato com a Câmara de Vereadores de Simão Dias, que acionou a Promotoria de Justiça do município. O promotor Ricardo Sobral ingressou com uma ação civil pública solicitando que a empresa de telefonia responsável pela antena de celular fizesse a retirada do equipamento. A representante da comunidade disse que uma liminar da Justiça chegou a determinar a retirada num prazo de 90 dias.

O processo ainda não foi julgado. “Só que o processo está parado e não sabemos o porquê. Não temos como pagar advogado para estar correndo atrás disso. Enquanto isso, as mortes continuam acontecendo”, disse Maralice Góis. A reportagem do JORNAL DA CIDADE entrou em contato com a Promotoria de Simão Dias, mas foi informada que o promotor Ricardo Sobral encontra-se em férias e até o fechamento da edição não conseguiu entrar em contato com o substituto para saber sobre o andamento da ação civil pública.

Sem comprovação científica

Dois oncologistas ouvidos pela reportagem do JORNAL DA CIDADE afirmaram, no entanto, que não há nenhum estudo científico que comprove que as ondas eletromagnéticas emitidas por antenas de telefonia celular possam causar câncer nas pessoas que estão expostas a elas.

O oncologista pediátrico Anselmo Mariano disse que, em adultos, há alguns trabalhos americanos que apontam que pessoas que viviam próximas a este tipo de antena tiveram a doença. “Mas não se sabe ao certo se ocasionado pela antena, pois não há comprovação neste sentido”, disse.

Opinião semelhante é externada pelo oncologista Geraldo Bezerra. Segundo ele, não há nada que confirme essa tese. “Eu mesmo nunca ouvi relatos nesse sentido em congressos científicos que confirmem que há relação entre a emissão de ondas eletromagnéticas e o surgimento de neoplasias”, afirmou Bezerra.

Retirada das antenas

Com a presença dos moradores do bairro Brasília nas galerias da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Wanderlê Correia fez um pronunciamento na sessão de ontem apresentando argumentos de alguns estudiosos que garantem que há relação, sim, entre a emissão e o surgimento de câncer. Segundo o deputado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) confirma que a influência intensa de ondas eletromagnéticas agita partículas do corpo, aquecendo-as, refletindo na saúde que quem mora ou trabalha perto das antenas.

Para evitar que situação semelhante à de Simão Dias aconteça em outros municípios, o parlamentar deu entrada ontem num projeto de lei que proíbe a instalação desse tipo de antena em área urbana, definindo uma distância mínima e dando um prazo para a retirada das que já estão instaladas. “Sabemos que não vai ser uma luta fácil, porque vamos brigar com grandes multinacionais da telefonia celular, que irão apresentar contra-argumentos, tentando mostrar que a situação não é bem assim”, disse.

O parlamentar disse que ainda esta semana irá ao Ministério Público estadual, com os documentos que já tem em mãos, pedir que seja investigado o caso de Simão Dias. Wanderlê apresentou também um requerimento solicitando a ida do especialista em telecomunicações da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Álvaro Augusto Sales, para um debate sobre o tema na Assembleia. Álvaro é um dos que defendem a tese de que o ideal seria que as antenas devem ser instaladas a mais de 400 metros de distância das regiões com concentração popular.
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