sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Celso de Carvalho: o neto do Barão de Santa Rosa

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Sebastião Celso de Carvalho nasceu a 24 de janeiro de 1923, em Simão Dias, Sergipe. Seus pais: João de Matos Carvalho e Rosa de Andrade Carvalho. Adotou a austeridade do pai,
como norma de conduta. De sua mãe, D. Rosa, adotou o exemplo de dedicação aos filhos.

Na fase inicial de sua vida escolar, foi aluno do Grupo Escolar Fausto Cardoso, em Simão Dias, mas por pouco tempo. Logo seu pai contratou uma professora de Aracaju, Antônia Borges da Silva, para ensinar toda a família na fazenda Balcão. Uma assistência escolar completa e vigiada pela família.

Menino de fazenda, convivendo com os vaqueiros, andando a cavalo, gostando de apreciar o vai-e-vem dos carros de bois, passou toda sua infância no campo, dividindo o tempo com os estudos e as brincadeiras. “Tinha um carro de carneiros que gostava demais. Eram seis e tinham nomes, como Coração. Tinha outro que dei o nome de Anel de Ouro. Essas coisas me povoam a mente com saudades de um tempo que jamais voltará”.

Fez exame de admissão no ginásio no Colégio Tobias Barreto do professor Zezinho Cardoso no dia 20 de outubro de 1933. O colégio militarizado que existia, na época, em Aracaju, graduou Celso de Carvalho como capitão. “Fui comandante da segunda unidade e fui porta-bandeira”.

Recorda-se que passou um domingo no colégio de castigo: “Passei um domingo prego, por ter tirado uma nota baixa em geografia. O professor Luís Figueiredo Martins, pai de Jackson Figueiredo, perguntou-me o que era gado suíno e eu disse que era bode. Deu-me uma nota ruim
e paguei caro”.

Mesmo recebendo castigo e com patente de capitão, o Tobias Barreto foi significativo em sua vida pelas boas aulas que recebeu de grandes mestres: Abdias Bezerra, Santos Melo, Artur Fortes, Bragança e Luís Figueiredo Martins.

A fim de fazer o curso complementar pré-jurídico, foi estudar em Salvador no Colégio Maristas, de 1940 a 1941. Em 1942, ingressou na Faculdade de Direito da Bahia, concluindo o curso no ano de 1946. “Vou fazer 45 anos de formatura agora no mês de dezembro”.

Em Salvador, vivia morando em pensão de estudantes. Quando se aborrecia, mudava-se. “Foram meus colegas sergipanos de faculdade: Luciano Nabuco e José Silvério Leite Fontes”.

Depois da formatura, voltou à casa dos pais em Simão Dias. Por um ano, já com interesse político, exerceu a profissão de advogado, aceitando algumas causas na sua cidade natal e na cidade de Paripiranga. “Problemas de posse de terra e crimes. Figurei em vários júris e em várias ações, sempre para atender a clientela eleitoral”.

Aos 24 anos de idade, estava disposto a entrar na política no ano de 1947, aproveitando o momento da redemocratização do país, depois do Estado Novo. Foi eleito prefeito da cidade, sem ter nenhum adversário político. Um jovem recém-formado em Direito, com excelentes relações de amizade com as áreas políticas locais, lideradas pelo tio, o desembargador Gervásio Prata, chefe político do PSD; e pelo deputado estadual José Dória de Almeida, conhecido como “Dorinha”, chefe político da UDN. Conseguiu uma trégua política na sua candidatura única.

Um prefeito sem problemas políticos, concluindo o mandato municipal sem se candidatar a nenhum cargo eletivo, por acordos políticos. “Não fui candidato a seguir, pois nós tínhamos um deputado estadual, José Carvalho Déda, o pai do desembargador Déda. Ele era nosso amigo e foi o nosso indicado a deputado. Exercia o mandato pela primeira vez e queria repetir. Se me candidatasse na mesma área podia prejudicá-lo ou os dois ficariam prejudicados”.

Por ato do governador em exercício, Edézio Vieira de Melo, foi nomeado Pretor do Termo Judiciário de Campo do Brito. “Era um juiz temporário por quatro anos”. Na função, passou alguns meses, motivado por uma reforma judiciária que supriu as Pretorias. Voltou a Simão Dias, exercendo, por algum tempo, advocacia.

No ano de 1954, foi eleito deputado estadual pela legenda do Partido Social Democrático, obtendo consagradora votação, tendo sido, da mesma maneira, reeleito. Um político bom de voto que sabia fazer o trabalho conforme manda o figurino. “Conhecia meu eleitor pelo nome. Tinha um cadastro organizado e meus olhos sempre funcionaram bem. O fato mais importante do município era a feira. Eu estava na feira, com uma mercadoria lá, que deveria estar presente. Na feira, tudo era uma delícia.

Acho a política uma atividade nobre, encantadora, mas árdua, áspera, dura. Eu, que já tenho oito mandatos, já não tenho mais participação. Não tenho mais coragem, sinto os pés amarrados, acompanho, leio, estou presente, converso e muito. Em Simão Dias, em relação aos meus correligionários, aos meus amigos, eu sou uma espécie de guru, de monte. Até digo a eles que algum dia vou usar uma capa de monge para impressionar mais. Sou um conselheiro político”.

Na segunda legislatura de deputado estadual, recebeu uma histórica vaia e faz questão de contar os detalhes do fato. “Quero narrar um episódio interessante: fui designado pelo meu líder, o deputado Cabral Machado, para falar em nome do Partido Social Democrático, saudando o novo governador no dia de sua posse. Éramos de oposição e eu preparei um discurso cuja tônica foi de combate ao comportamento político do governo anterior. As galerias estavam lotadas, autoridades, convidados e o plenário com todos os deputados. Comecei a ler o nosso discurso e, logo nas primeiras palavras até as últimas, passei a receber uma estrepitosa vaia, destas de tremer as galerias, que deliravam em assuadas constantes. Confesso que não me perturbei, porque a grande massa, ali presente, era composta de governistas e eu falava refletindo os sentimentos da oposição, cujos membros me escutavam pelo rádio e vibravam pelo desabafo feito através do seu representante. Aliás, em outra solenidade de posse, o deputado Cabral Machado havia sido vítima de vaia igual. E o interessante de tudo isto é que tanto eu como Cabral fomos depois eleitos vice-governador do Estado. Afinal, em uma democracia, ‘vaia’ também é título de ascensão política, desde que sua vítima saiba suportá-la com firmeza e sobranceria”.

Em Simão Dias, durante algum tempo, diziam que quem mandava na política era o Dr. Celso.
“Eu nunca me arvorei de coronel político. Jovem, naturalmente, eu tinha um novo estilo de fazer política e ser um estilo mais bacharelesco, mais de líder do que de chefe. Em Simão Dias, quando eu iniciei na política, os chefes, os coronéis, meus parentes antigos e, do outro lado, meus adversários já tinham ficado bem para trás. Passei a fazer uma política mais de liderança, menos de subordinação do eleitorado a nossa vontade. Não acho que tenha sido um coronel político, nem nunca me arvorei como tal, nem nunca exerci a política de maneira que o eleitorado me tivesse como coronel. Era Dr. Celso, Dr. Celso, de Dr. Gervásio passou para Dr. Celso e até hoje é Dr. Celso”.

Revela que, em Simão Dias, a política hoje é mais amena. “Não há coronelismo há muitos anos. Os políticos não se odeiam, se antagonizam. São adversários, mas não são inimigos. O coronelismo, na política, foi saindo de cena de Eronildes de Carvalho para a época de Maynard Gomes. Com a Constituição de 1946, as coisas já se passavam diferentemente. O coronelismo já estava quase morto. Pelo menos em Simão Dias e, em geral, no Estado. Os focos eram pequenos e localizados”.

Iniciou como prefeito de Simão Dias, foi deputado estadual por dois mandatos, vice-governador e governador. Foi deputado federal três vezes. “Tenho oito mandatos, todos eles eleitos. Nunca tive um bionicozinho, que deve ser uma coisa gostosa. Não tive nenhuma perda pessoal. Nem sempre lograva a vitória para o meu candidato. Tanto que eu não fui mais candidato em 1986 para mais um mandato federal, porque tive receio de perder. Queria sair de campo sem ser expulso. Meu grande desejo era ser senador e não fui. Acabou-se. Senador é um cargo dado pelo destino, não é muito pela vontade da gente”.

Celso de Carvalho tem a seguinte opinião sobre a política: “Os políticos, com esse período autoritário, passaram a fazer sua catequese, atraindo o eleitor com algo material, materializando a política. Aí o eleitorado ficou achando que aquilo era uma troca de vantagens, quando deveria ser uma deferência, uma estima ou uma convicção do eleitor com o seu líder. Na política não gastava muito dinheiro, gastava o que eu podia e dava para passar. Hoje, para ser político, eu ia gastar o que não podia, pelo menos o que não devia. Tenho saudades do convívio político. Dava-me muito bem com os meus colegas da Câmara Federal, tinha livre trânsito com eles e, até hoje, sinto saudades do convívio com os meus companheiros. Chamavam-me de pavão, depois passaram a me chamar de barão. Achavam que o meu perfil era de Barão. E aí eu perguntava: ‘Barão sem Baronato?’ Mas eu sou neto do Barão de Santa Rosa”.

Celso de Carvalho explica como chegou ao governo de Sergipe. “O governador Seixas Dória viajava muito para o sul do país. Naquele período, a Constituição Estadual não permitia que o governador saísse do Estado sem transmitir o poder. Eu vivia permanentemente no poder. Seixas Dória passou precisamente onze meses e eu assumi quatorze vezes. Se somasse o tempo dele, daria oito meses, e o meu, seis. Seixas estava muito envolvido com João Goulart e foi para o Rio de Janeiro em março, para o comício da Central do Brasil. Ele estava lá e eu aqui no governo”.

No dia 31 de março, foi assistir à posse do desembargador Serapião de Aguiar Torres no Tribunal de Justiça, quando o comandante do 28º Batalhão de Caçadores, major Francisco Rodrigues da Silveira, ali presente, em meio à solenidade, levantou-se para atender a alguém que o chamou do lado de fora do recinto. “Como não mais tivesse voltado ao seu lugar, seguindo direto ao quartel, foi o bastante para que circulassem os mais desencontrados boatos sobre o movimento revolucionário. Logo após a solenidade, interessado em saber o que se passava, mandei ao quartel o secretário de Segurança, que era também major do Exército e comandante
da Polícia Militar. Depois eu mesmo telefonei ao comandante para saber o que estava havendo.

Recebi a resposta que era uma ordem de colocar a tropa em prontidão. Isso foi no fim da tarde. À noite, fui à casa do desembargador recém-empossado, que oferecia uma recepção.

Aproximadamente às 22 horas chegaram, onde eu estava, o deputado José Onias de Carvalho, líder do governo, e o coronel João Machado Filho, chefe da Casa Militar. Vieram me comunicar que a situação do país era grave e sugeriram que eu fosse para o palácio a fim de acompanhar o desenvolvimento da situação. Atendi a sugestão e, logo depois, eu estava na sede do governo, onde passei toda a noite em vigília e ansioso que chegasse o governador efetivo. À uma hora da madrugada do primeiro de abril mandei chamar os deputados Djenal Queiroz e Pedro Barreto, a fim de trocarmos ideias sobre as ocorrências. Os acontecimentos se precipitavam no sul do país e achamos, por bem, convocar ao palácio todos os secretários de Estado, o que foi feito às cinco horas da manhã, pondo-os a par do que se passava”.

“Às 6h30, o comandante do 28 BC telefonou pedindo a interferência de Celso de Carvalho junto ao deputado Euvaldo Diniz, que estava fazendo uso das estações de rádio, concitando os trabalhadores contra os acontecimentos, causando agitação popular. “Chegou José Rosa de Oliveira Neto e perguntou o que era aquilo. Eu lhe respondi que devia ser uma revolução, pelo jeito. Ele disse que se fosse preso, seria de um jeito e Seixas Dória seria de outro. Pois bem: de manhã, Euvaldo chegou, reclamando que um capitão do Exército tinha colocado uma metralhadora na sua barriga e que ele não admitia isso, pois era deputado federal. O comandante que estava ao meu lado tinha ordem de prender Euvaldo Diniz. Eu disse para Euvaldo que ele tivesse cuidado. Segurei em seu braço e, baixinho, continuei a dizer que tivesse cuidado. Euvaldo, que era vivo, percebeu a minha insistência e começou a dizer que sempre admirava o Exército Nacional e convidou o comandante para ouvir um discurso que ele fez em louvor a Caxias na porta do palácio”.

“O comandante recebeu um outro rádio para prender Euvaldo. Eu passei um rádio ao comandante da Região, pedindo o relaxamento da prisão. Eles atenderam minha solicitação “em atenção a minha alta autoridade” (isso no dia primeiro de abril, e eu estava em exercício). Seixas chegou à noitinha. Antes, eu tinha solicitado ao pessoal da rádio para impedir o pronunciamento do governador. Passei o governo e fui para casa dormir, pois estava muito cansado, porque Seixas falou na rádio às 3h30 da manhã, invadiram o palácio, prenderam todas as pessoas que estavam lá, subiram e arrombaram a porta do quarto do governador. A esposa dele foi para a casa do pai e ele para o quartel. Às cinco horas da manhã, estava em meu apartamento quando fui acordado pelo major do Exército, Lário Lopes Serrano, que se encontrava em companhia do deputado estadual Aloísio Tavares. Fui informado pelo major que era para assumir o governo.

Pedi para dar alguns telefonemas. Recebi a notícia de que os telefonemas estavam interceptados. O major perfilou-se e disse: ‘Diga o que Vossa Excelência deseja, pois estou aqui para servi-lo’. Eu já estava mandando, mesmo sendo governador de pijama. Foi a maior emoção que senti em toda minha vida”.

No dia 6 de setembro de 1952 casou com Bertilde Barreto, tendo quatro filhos: três homens e uma mulher: Celso Barreto, João Eduardo, Luciano Augusto e Sônia Maria. É avô de sete netos.

Fonte: Jornal da Cidade
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