quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Jornal da Cidade destaca: "Lixo hospitalar agride meio ambiente em Simão Dias"

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Problemas relacionados ao destino correto do lixo hospitalar e a obras de saneamento básico em alguns bairros têm incomodado moradores de Simão Dias, município que fica na região Centro Sul do Estado. De acordo com a comunidade, o descarte hospitalar não é feito de maneira adequada, o que está pondo em risco a saúde da população, já que próximo à lixeira passam alguns córregos e o rio Caiçá, que abastece a cidade.

O catador José Aparecido Barbosa confirma a informação e diz que no local existe apenas uma vala aberta pela prefeitura, onde o lixo hospitalar é despejado sem nenhum tratamento e depois queimado. “Já estou há oito meses aqui e eles jogam neste buraco”, aponta o morador, informando que o local fica em meio ao restante dos entulhos. “Eles colocam aí e queimam separados dos outros”, diz o morador, confirmando que próximo ao local existem alguns riachos.

A lixeira fica no alto da serra do povoado Areal. Os moradores acreditam que provavelmente o chorume gerado pelo entulho pode está contaminando os açudes das várias propriedades rurais que margeiam o local. Outro problema relacionado ao risco de poluição compromete o lençol freático da região e o rio Caiçá, que fica a pouco mais de dois quilômetros da área utilizada como depósito de lixo.

O secretário de Obras da prefeitura, José Antero Rabelo Barreto, também afirma que o lixo hospitalar é despejado no local e depois queimado. “Na administração anterior, o Ministério Publico Estadual (MPE) exigiu que fosse construída uma vala para incinerar o lixo. Daí em diante, o material é recolhido por uma caminhoneta da prefeitura que percorre os postos de saúde do município e os hospitais para recolher o material descartado. Atualmente, isso é feito todas as semanas”, explica.

Infelizmente o relato dado pelo secretário com relação à “incineração” não foi confirmada pela equipe de reportagem do JORNAL DA CIDADE. De acordo Resolução da Diretoria Colegiada (RDC), nº 306, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), são precisos alguns procedimentos para aplicar o processo correto de eliminação do material colhido, como por exemplo, a descrição do sistema de amostragem e caracterização das cinzas e escórias geradas durante a incineração, além da descrição do destino final dos resíduos gerados no sistema de controle de emissões atmosféricas.

Estes procedimentos prevêem o controle sobre o material que está sendo queimado para que não possa contaminar o meio ambiente através do lençol freático ou da emissão de gases tóxicos. Além de não ser incinerado em local adequado, ainda é possível ver no lixão vários frascos de medicamentos, seringas e outros utensílios médicos que não são completamente destruídos. É comum também ver pessoas perambulando sem nenhuma fiscalização.

Lagoa do Olaria

Outro problema que aflige a população está relacionado às obras de saneamento básico do bairro Olaria. Moradores da travessa Manuel de Souza Menezes se queixam de uma lagoa que serve de reservatório de fezes. Além de receber esgoto de outros bairros, quando chove ela transborda e invade as casas, trazendo grandes transtornos para a comunidade. A presença de insetos, cobras e ratos é outro contratempo ocasionado pela situação.

“Aqui, ninguém aguenta mais. Os meninos ficam dentro d’água. Gente perde colchão, geladeira, fogão, tudo, porque as águas invadem as casas. Ela só não chega ao telhado porque é muito alto, mas ultrapassa a janela. Fora a podridão que vem do esgoto dos outros conjuntos que é despejado na lagoa. Outra coisa são os ratos, baratas e até cobra que minha sogra matou um dia desses”, reclama o morador Orlando Jesus Santos.

A mesma opinião tem dona Lindinalva Maria de Jesus, que mora com o irmão João Alves dos Santos em uma casa na mesma travessa. “A vida está muito ruim aqui. Enche tudo e a gente está passando um sufoco danado por causa disso. Da mesma forma é este cheiro insuportável que sai da lagoa. Estamos flagelados sem saber o que fazer e ninguém toma nenhuma atitude concreta”, critica a senhora.

Mais saneamento

Saneamento básico também é o pedido da comunidade que mora nas proximidades do matadouro da cidade. Os dejetos gerados pelo abate dos animais estão sendo jogados, sem o tratamento adequado, em um riacho que corta os conjuntos Rivalda Matos e Manoel Ferreira. Além disso, quando o córrego enche fica quase impossível passar entre os dois lugares que são ligados apenas por uma passagem improvisada de madeira de pouco mais de 50 cm de largura.
Sempre preocupado com os problemas relacionados à ordem pública do município, o investigador Nivaldo Ribeiro de Souza já questionou a situação da comunidade por diversas vezes na mídia sergipana. Mas, de acordo com ele, até agora não teve muito êxito nas reivindicações. “Apesar de cinco governadores terem saído daqui, a cidade ainda enfrenta muitos problemas de infraestrutura e quem mais sofre com isso é a população de baixa renda. Além do mais, tem a situação do meio ambiente, como é o caso da lixeira e dos resíduos do matadouro”, alerta o cidadão.

“Uma senhora de idade já caiu quando tentou usar a passagem. E quando o rio enche os moradores não tem por onde passar. Para ir por outro caminho tem que dar uma volta de mais de um quilômetro e meio. Alguns jovens se arriscam e chegam a passar pela tubulação que despeja a sangria dos bois no riacho”, revela Nivaldo, afirmando que o acesso é muito utilizado para se chegar a uma fábrica de calçados que fica situada no Conjunto Manoel Ferreira.

“Isso existe há anos e ninguém faz nada. Os rios da cidade estão sendo poluídos e essa água retorna para a torneira dos moradores. O problema é grave, porque daqui a alguns dias, caso não seja feito algo, a população vai ter que beber água contaminada”, acredita Nivaldo, que já encaminhou alguns manifestos, registrados em cartório, para Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), pedindo providências.

Há décadas

De acordo com o prefeito de Simão Dias, Denisson Déda (PSB), os problemas já existem há décadas e ele está fazendo o possível para tentar sanar os contratempos definitivamente. “Com relação ao lixo, nós temos uma área disponível há mais de 11 anos utilizada para despejo do material recolhido na cidade, onde constantemente fazemos aterro desse material para evitar a proliferação de insetos. Fomos a Brasília recentemente, juntamente com o prefeito de Poço Verde (Toinho de Dorinha), para tratar com a Funasa (Fundação Nacional da Saúde) sobre a possibilidade de criação de um aterro sanitário”, justifica o prefeito, dando mais explicações.

“Antes de assumir, eu procurei a Deso para fazer um levantamento de quanto ficaria para resolver o problema do esgotamento sanitário de nosso município. A empresa orçou o valor em mais de R$ 20 milhões. A Funasa nos garantiu R$ 2,5 milhões e o governo também entraria com uma parte, mesmo assim ficaria muito longe do valor orçado da obra. Para se ter idéia da situação, o esgotamento de Simão Dias é da década de 50, e quando chove o município tem que se desdobrar para resolver a situação”, justifica Denisson, afirmando que a prefeitura tem feito o possível para resolver os problemas.
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